segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Inferno líquido

Chove...
E a água lava os resquícios da comemoração do Ano Novo e traz os mesmos temores de todos os anos velhos... lava-se a maquiagem da cidade e revelam-se as feridas.


Os bueiros tentam beber toda a chuva, mas estão muito ocupados tentando digerir o lixo que foi parar em suas gargantas. As ruas, então, transbordam... de água e de carros. 


Todos com pressa. Só se quer sair logo da rua molhada e chegar a um lugar seco, se é que ainda existem lugares secos por aí. Na pressa, vale tudo: acelerar em sinal amarelo (e, por que não no vermelho também?), parar em filas duplas e triplas, criar vagas de estacionamento onde não existem...


O asfalto se rompe em escaras. Verdadeiras crateras que obrigam os motoristas a desvios nem sempre seguros. A vida nesses dias pode ser uma aventura. Um rally em que é preciso ser capaz de desviar de buracos e obstáculos fixos e móveis, quase suicidas.


Pedestres munidos de sombrinhas e guarda chuvas se acotovelam pelas ruas e embaixo das marquises. E, também com pressa, atravessam as ruas correndo, no meio dos carros. Ignoram o perigo dessas manobras.


Em alguns pontos o rio ruge, em outros, simplesmente, se expande. Ameaça se derramar pela cidade, molhando ainda mais o que já está encharcado e despejando de volta em ruas e casas o lixo que guarda em suas entranhas. Talvez seja sua forma de protesto. Talvez só queira um pouco de atenção.


E a cidade começa o Ano Novo de olho em problemas já velhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário