domingo, 16 de dezembro de 2012

Sorrisos e sorrisos

Coisa linda é ver sorrisos no rosto de alguém, né? Nessa semana que passou, vi tantos sorrisos tão lindos e me senti tão bem por participar deles que percebi, com cada célula do meu corpo, o quanto é bom ver gente feliz e ser feliz com essa gente.

Começou com minhas alunas do Núcleo Padre Pedrosa, do Senac, que dividiram comigo e com elas mesmas tanta alegria e tanta história bonita, de dores e amores e vitórias sem fim... Pude ver nos olhos de cada uma delas a alegria de se encontrar, de abrir seus corações e de compartilhar suas vidas e seus causos... e me senti tão iluminada por aqueles sorrisos que achei que ia explodir de alegria.

Hoje, foi minha outra turma, de Recepção em Eventos, também do Senac, que me proporcionou momentos lindos e mágicos no evento que eles mesmos organizaram nas Obras Assistenciais Frederico Ozanan. Os sorrisos dos alunos, da prof Claudia que nos prestigiou com sua presença, dos Drs Palhaços e, em especial, dos internos da Casa me levaram a um êxtase que eu nem sabia que era possível. Fora a alegria de reencontrar meu amigo Julio César "Choco da Silva Late", vestidinho de Dr Palhaço. Nunca vi uma roupa cair tão bem para uma pessoa... rsrsssss...

E ainda não acabou... essa semana ainda tenho visita surpresa agendada para meus alunos do curso de Cabeleireiros... haja coração!!! 

São essas alegrias de momento, alegrias instantâneas, com pessoas especiais e em lugares especiais que fazem a vida da gente valer a pena. Perde quem fica buscando a felicidade em uma única pessoa ou que a condiciona a algum acontecimento especial... Especial mesmo são as pessoas que cercam a gente, que sorriem para a gente e com a gente, que se deixam levar pela emoção e choram também quando têm vontade. Especiais mesmo são os momentos, os instantes que pegam a gente de surpresa e fazem a gente esquecer que o tempo existe. Especiais mesmo os sentimentos de quem gosta de si mesmo o suficiente para gostar do outro, sem distinção, sem restrição, sem senão, sem porquê, sem até...

sábado, 15 de dezembro de 2012

Laura Pausini - En Cambio No (Video Oficial) - YouTube

Dezembro chegou e eu não me acostumo... 

"Porque no puedo acostumbrarme aún
Deciembre ya lllegó, no estás aquí...


Porque se rompen en mis dientes
Las cosas importantes
Esas palabras que nunca escucharás
Y las sumerjo en un lamento
Hacie
Haciéndolas salir, son todas para ti
Una por una aquí...


Quizás bastava respirar, sólo respirar muy lento
Hoy es tarde..."


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Esperas

Tempo de reticências...
de pausas...
de paradas...
de esperas...

Tempo de pensar
de rever
de entender
de dar tempo ao tempo


Tempo de esperar uma palavra...
um movimento...
um aceno...
um toque...
um indício...
você!

Mas, não tem nada
não vem nada
nem um vento
nem um gesto
nem um som
nenhuma palavra
só o silêncio


E eu aqui...
esperando até que o tempo de esperar passe




terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Confissões

Confesso que errei
que quis mais que devia
que fiz mais que podia
que desejei mais que merecia

Confesso que fui estúpida
que acreditei demais
que esperei demais
que me entreguei demais

Confesso que me enganei
não, ninguém me enganou
fui eu mesma
ingênua
imatura
infantil

Confesso que cometi absurdos
que me deixei levar
para onde não queria ir
que me deixei calar
quando queria falar
que falei demais
quando devia calar

Confesso que enlouqueci
que vi fantasmas onde não havia
que ouvi vozes que só silenciavam
que dialoguei sem ter com quem

Confesso que exigi demais
de mim e de você
quis transparência
quando me ofusquei de mim mesma
quis desenhar caminhos
quando me perdia

Confesso que cometi abusos
que exigi demais e ofereci pouco
que quis guiar, mas estava perdida
que quis saber, mas me afundava em ignorâncias
que quis salvar, mas pedia socorro
que amei um amor de morte e de dor

Confesso que feri
com um amor cortante
amor que mutilou
que causou dor

Confesso
me sentencio
me penitencio

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Quando um não quer...

"Quando um não quer, dois não brigam", mas também não amam. Tanto o confronto quanto o amor pressupõem a existência e o reconhecimento do outro, com suas deficiências, belezas, complexidades e enganos.

É que amor é encontro e não existe encontro de um só. Os mais românticos diriam que é, sim, possível amar em silêncio, sem que o outro sequer saiba... o tal amor platônico. Mas, fato mesmo é que amor saudável e completo implica em encontros e compartilhamentos, ou seja, implica em comunicação. Sem comunicação, é como diz o velho ditado... a vontade de um só não é suficiente.

Amor só existe quando há um encontro de dois, quando as duas partes envolvidas se colocam à disposição para caminhar lado a lado. Amar, assim como viver, é dinâmica e não estática. Não existe amor parado, sem movimento, sem dança. E amar, assim como comunicar, é troca, é expressão. Não existe amor em silêncio completo, amor sem dizeres, amor sem revelações, amor que precisa adivinhar o que o outro silencia.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Retrospectivas

Dezembro se avizinha, com seus vermelhos, verdes e luzes. Tempo de relembrar, de revisar, de repensar condutas, histórias, demandas... Tempo de memórias e saudades. Tempo com gosto de infâncias e de passados. Tempos de revisitar tempos idos e preparar terrenos para tempos vindouros.


Dezembro é sempre meio melancólico. É hora de constatar que os planos e promessas feitas meses antes não foram concretizados... a dieta... a academia... a dedicação à família e aos amigos... a mudança de emprego... o tempo que deveria ser dedicado a nós mesmos e que insistimos em gastar com bobagens... o estresse que deveria ter sido controlado e só fez crescer desde janeiro...

Para mim, 2012 veio exatamente como eu planejei, ou seja, sem planejamento algum. Prometi, em janeiro, que não me deteria em planos e projetos que nos anos anteriores não consegui cumprir. E assim o fiz. Vivi simplesmente. Não me abstive evidentemente de pensar, decidir e agir, nem por um momento sequer, mas não prometi e nem arquitetei nada. Por isso, 2012 se encerra cercado de surpresas que, em janeiro, eu sequer suspeitava.

Mudanças de endereço, de estado civil, de emprego, de área de atuação profissional... curso novo... pessoas que se foram e tantas outras que chegaram trazendo luzes, cores e sabores diferentes. Comecei o ano casada e termino solteira. Comecei o ano desempregada e sem perspectivas e termino sem emprego fixo, mas com um horizonte de possibilidades. Comecei com problemas com meu filhote e termino sabendo que ele é meu melhor amigo.  Comecei o ano doente, deprimida e medicada e termino curada (sim! recebi alta do psiquiatra e do terapeuta... bando de gente louca!). Comecei o ano pensando em ser professora e termino com sonhos já bem encaminhados de ser advogada, promotora, juíza, desembargadora... ou nada disso... sei lá.

Nesse ano, descobri e redescobri muitas coisas. Redescobri, por exemplo, o poder de sonhar. Redescobri a família e me reconciliei com pessoas que amo muito, mas que estavam distantes. Vi gente muito querida adoecer (e me preocupei) e se curar (e celebrei). Percebi que, quando se tem uma mão para segurar é possível ir mais longe, desde que essa mão queira ir na mesma direção que a gente e que a busca compartilhada é mais gostosa e divertida. Descobri que, às vezes, é preciso deixar quem se ama para que essa gente possa seguir seu caminho e a gente, o nosso. Descobri a força do começo e do recomeço.


Redescobri minha sanidade e minha saúde e descobri uma insuspeita força espiritual. Percebi que não estou sozinha e que tenho muitos protetores e guias me orientando pelo caminho, embora as escolhas sejam sempre minhas, com todas as consequências que elas trazem, e as respostas quase nunca sejam claras. Descobri que sou grande e sou forte (embora não seja filha do norte) e minha maior força vem da capacidade de ajudar e que quando eu seguro a mão de alguém essa pessoa também segura a minha e o poder se multiplica. 

Vivi momentos de dor, de perda e também de uma alegria calma e serena. Vivi o luto de um grande amor que se foi, para nunca mais, o desespero, o desamparo, o destempero da perda... e vivi as alegrias de encontros e reencontros. Chorei até dormir e acordei cheia de uma alegria inexplicável, daquelas que colorem o mundo em volta. Tive momentos de querer desistir e outros de me encantar com a beleza da dança dos desafios e vitórias. Vim, vi, vivi e venci. Principalmente, venci meus próprios medos e minhas próprias angústias. Me libertei das amarras e barreiras que eu mesma me impus.

Não me arrependo de decisões tomadas e não me queixo dos sofrimentos e das dores, embora não me orgulhe totalmente de tudo o que fiz, já que acabei provocando sofrimentos também. Me fortaleci com isso tudo. Aprendi. Cresci. E 2012 deixa, para mim, uma lição importante: sempre há uma lição a se aprender com o que quer que seja. Sempre se pode crescer e melhorar com todos os fatos da vida. Cabe a nós perguntar "o que se deve aprender com isso".


Foi um ano muito rico em todos os sentidos (menos o financeiro,infelizmente!). Um ano marcante, um divisor de águas, o ano em que me apaixonei por mim mesma, mesmo reconhecendo todos os erros, enganos e equívocos.

Que venha o Natal, com suas luzes e festas. Que venha o Reveillon com seu clima de despedida e, principalmente, que venha 2013, com suas promessas e com seu cheirinho de coisa nova. E, prometo não prometer nada para 2013, exceto ser FELIZ!!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Escolhas

A vida é mesmo cheia de altos e baixos, gordos e magros, belos e feios, louros e morenos... Ela é feita de contrastes e paradoxos. E é feita de momentos bons e outros nem tanto. E, especialmente, ela é feita de escolhas. Não só no sentido Cecília Meireles, mas também, e principalmente, no sentido Cora Coralina.



Ou isto ou aquilo


Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
 
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
 
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
 
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
 
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
 
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!
 
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
 
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.





segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Cinza de quarta-feira

Depois de tanta cor, tanto brilho
tanta serpentina e confete
tanta pluma e lantejoula
tanto som, tanta festa
tanta alegria e tanto amor
Eis que o Carnaval se vai
e leva junto as cores do mundo
os sons do coração
as alegrias da alma
e deixa o vazio, o oco
antecipam-se os lamentos da quaresma
longa e tenebrosa
as penitências... as vias-sacras... os suplícios
Sabendo disso, a quarta-feira chora, cinza-chumbo
e se congela de sofrer e de saudades

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Só por hoje

Só por hoje eu quero
sua pele na minha
sua boca na minha
seu corpo no meu
Quero seu cheiro
seu calor
seu sussurro
seu suspiro
sua loucura
Hoje eu quero
sua alma enroscada na minha
sua ideia embaralhada na minha
seu coração juntinho do meu
Hoje eu quero
você em mim e só
Só por hoje
E que todos os dias sejam hoje

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Te amei assim...

É... eu te amei sim!
E te amei assim
Tanto que  que exagerei
Que quase nem sobrou mais amor
para mim e mais ninguém

Te amei assim

E de tantos jeitos...
De corpo inteiro
Com a alma toda
Com a mente louca
e o coração
Ah! O coração...
Achei que pararia sem você por perto
Ele, que já nem me pertencia
Era seu e só
Inteiro
Inundado de você
Insano
Incompleto sem você

Te amei assim

Amor intruso
que me invadiu inteira
se embrenhou na vida toda
tomou conta de tudo
Até eu não saber mais quem era eu
Até eu perder os limites
Até eu ficar sem sentido
Até eu me perder de mim
Até eu só existir em você

E te amando assim

vivi uma vida toda
uma vida que deixou de ser minha
que virou coisa sua

Foi assim que te amei

Bem assim!

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Pequenas vontades

A vontade hoje é de um olhar
Daqueles que me fazem ter certeza
de que eu existo mesmo
Daqueles que me olham toda, ou quase
Daqueles me veem, decifram, ou tentam


A vontade hoje é de um abraço
Daqueles que abraçam o corpo todo
e até um pedacinho da alma
Daqueles que aquecem, que aninham
Sem ferir, sem cortar, sem doer, sem sangrar


A vontade hoje é de conversa
Daquelas que constroem ideias
que enxergam mudanças
Daquelas de presentes e futuros
sem passados e defuntos e velórios
Daquelas que falam e que ouvem
Que fazem brotar sorrisos e risadas, se possível
Conversa boa, de amigo
Sem lâminas, sem cortes, sem censuras
Conversa leve e macia e suave


A vontade hoje é de coisa boa
De coisa bela e simples
A vontade hoje é de viver leve

Compartimentos

Num mundo aí, existem dois compartimentos hermeticamente separados: em um cabem as coisas e pessoas boas e no outro, as coisas e pessoas más. Numa determinada situação, duas criaturas, que chamaremos de A e B, entram em conflito e, portanto, não podem conviver num mesmo compartimento.


Acontece que A sempre deve ser posicionada no compartimento das coisas e pessoas boas. Assim, caberia a B ser alocada entre as coisas e pessoas más. Mas, por um decreto qualquer, B não pode ser colocada lado a lado com as coisas e pessoas más. Não que ela não seja má, mas é porque... bem... não tem porque nenhum. Não pode e pronto. 


Assim, fica o dilema: o que fazer com B? Ela não pode ficar com A no compartimento das coisas e pessoas boas (pelo menos até que ela pare com o que quer que seja que vem provocando esse conflito e se torne, efetivamente, uma pessoa boa) e nem pode ser colocada no compartimento das coisas e pessoas más. 


A solução encontrada... criar para B uma espécie de limbo, uma zona morta em que ela possa pairar, meio sombra, meio translúcida, meio nada; reduzi-la à invisibilidade, à um certo tipo de transparência, a uma meia inexistência até que ela possa se redimir, apagar o conflito com A e voltar a conviver (sob tutela e liberdade vigiada) no compartimento das coisas e pessoas boas. E assim, meio-vive B... nas brumas, numa dimensão esquecida qualquer.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Desejos e delícias

Começa num olhar
com um brilho de malícia
Depois, palavras que provocam
E as mãos tocam, quase de surpresa
E aí, é a pele que incendeia 
Com um arrepio de delícia


E a língua
molhada de urgência
e o hálito
e a respiração entrecortada
e os suspiros e sussurros
e gemidos de delírio
e o corpo inteiro
entregue, descontrolado
e dois que viram um
e se completam, se entretecem
e se despojam de não-podes e não-deves
e se abandonam no ritmo
de te-amos e te-queros
e se perdem emaranhados
em febris paraísos


E depois são as lembranças
as saudades, os anseios
e as memórias insistentes
e os pensamentos desgovernados
que despertam o corpo
com arrepios e tremores
e se revelam em sorrisos meio bobos
e suspiros incontidos
e denunciam os pecados inconfessos
pelos quais vale a pena se perder

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Inverno de corpo e alma

É um frio que vara a pele
corta a carne
trinca os ossos
e chega à alma

É um frio que vai no fundo
que fere, dilacera e aflige
Um frio de angústia
de saudade e de desejo

Não é frio para agasalho
cobertor e aconchego
É frio que pede fogo, corpo e pele
Frio que pede boca e língua
Que tem febre de loucura
Que tem sede de saliva
Que tem fome de você

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Helena e eu

Não. Não estou com saudade dela. Mas, acordei pensando nela hoje. Aliás, ela tem estado presente nos meus pensamentos nos últimos tempos. Na verdade, acho que ela nunca saiu dos meus pensamentos, mesmo já tendo ido embora da minha vida há quase 20 anos. Só que hoje é diferente. Acordei imaginando em como seria encontrá-la depois de tanto tempo. Eu, um cadim nais adulta, um tico mais madura. E ela, quem sabe, curada de suas dores e rancores. 
Não queria a mãe, queria a mulher. Queria conversar, sem perdões, sem senãos, sem sermões. Talvez me visse nela, talvez me visse através dela, talvez simplesmente a visse, ela e só ela. Talvez uma conversa, quem sabe um abraço, uma torrente de lágrimas ou só um sorriso.
Não, não é saudade. Não gostaria de vê-la como ela era, sofrida, doída, amarga. Queria vê-la bem, inteira, completa, madura, feliz, se possível. Queria aprender com ela e, quem sabe, ensinar algumas coisas. Mostrar meu mundo, meus mundos. Me mostrar. Se ela iria gostar do que veria, não sei. E também queria ver, conhecer, entender.
Não, eu não quero minha mãe. Não quero a Donelena de 20 anos atrás. Queria conhecer a mulher, parceira de tantas características compartilhadas sem saber. Hoje eu queria ela, a Helena.  

segunda-feira, 26 de março de 2012

Pefeição

A perfeição não me comporta. Talvez por eu não saber me comportar.
Ela, redonda, contínua, lisa, harmoniosa... 
Eu, angulosa, desconexa, crespa, descompassada... cheia de pontas, arestas, cantos, lados...
Para caber nela, tenho de me podar, me cortar, me mutilar... tenho de sangrar.
Não. Não nasci para ser perfeita. Sou torta demais, desproporcional demais, assimétrica demais.
Nasci foi para o equívoco, o engano, o incerto, o insano.
Mosaico de mim, nasci para a textura, os muitos lados, a dissonância, a discrepância, o disparate.
Eu não caibo na perfeição e a perfeição a mim não cabe. 
Não consigo ser perfeita. Nem quero!

quinta-feira, 15 de março de 2012

Desterro

Uma estrangeira onde quer que esteja. É assim que me sinto. Desterrada. Livre, talvez, de um cordão umbilical tardiamente rompido, que me ligava a algo há muito morto e pútrido. Talvez...


Livre dessa amarra, a sensação é estranha. Um desapego, uma liberdade dolorida e solitária. Aquele algo  a que me estive atada por tanto tempo, embora me sufocasse, me servia de norte e de porto. era um alento. Sem isso, me perco, me expatrio. Boio num sem fim de possibilidades e não me apego a nenhuma. São horizontes demais e chão de menos.


Estrangeira, turista, forasteira, invasora não importa onde esteja. Todos os lugares me parecem paradoxalmente familiares estranhos. Familiares, talvez, por causa da minha ânsia de ver mapas, rotas e fotos antes mesmo de chegar. Estranhos, talvez, por minha própria estranheza, que se estende até às mais costumeiras paisagens.


Acho que é a minha paisagem interna que está estranha. O estranho, então, sou eu. O medo é de mim mesma. Virei uma estrangeira em mim.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Minha mórbida e insólita experiência na Pousada Galeão

A Pousada Galeão - na Lagoa da Conceição, em Florianópolis - foi a pior, a mais nefasta e esmagadora experiência de consumo-atendimento que já vivenciei. Incompetência, preguiça e má-fé se aliaram para criar o macabro cenário que me recepcionou à Lagoa no último sábado e que me espantou de lá já na manhã de domingo.


Chegando à Pousada, na manhã de sábado, conforme previamente combinado por telefone com o proprietário, esperei quase meia hora antes de ser recebida por outro hóspede. É que o dono estava dormindo  e, pelo visto, não queria ser acordado antes do por do sol.


Fui, então, desovada em um quarto que ainda não tinha sido limpo e arrumado desde a saída do último hóspede. Pelo cheiro e pela quantidade de insetos, parecia que isso tinha sido há algumas semanas. Fui brindada com uma vassoura e um balde para que, se quisesse, limpasse eu mesma a imundície. 


Obviamente indignada e frustrada, deixei minhas malas e saí para dar uma volta e render minhas homenagens ao mar (nesse caso, à Lagoa, o que dá no mesmo, já que é tudo água salgada) até que algum responsável aparecesse para resolver a situação. A paisagem fantasticamente azul me acalmou. Não dá pra ficar irritado num cenário daquele.


Ingênua, ponderei comigo mesma que tudo não passava de um mal entendido e que o dono deveria aparecer logo para tomar as providências cabíveis e me transferir para um quarto decente. Voltei à Roubada, ops! Pousada. O digníssimo continuava dorminhocando sem querer ser incomodado. Incomodada fiquei eu quando o tal hóspede que me atendeu cobrou, a mando do dorminhoco, o valor da diária. Respondi que pagaria ao próprio dono, quando ele se dignasse a aparecer.


Ao cair da noite, ele se dignou. Apareceu ameaçando chamar a polícia caso eu não pagasse o valor da diária e desocupasse imediatamente o quarto, já que, como eu não paguei antecipadamente, ele tinha alugado para outra pessoa.


Surpresa e assustada com a insólita situação e apavorada com o comportamento do sujeito, paguei a tal diária (a essa altura, já não sabia do que ele seria capaz se não pagasse e eu estava sozinha com ele na tal pousada). Saí e procurei outro lugar para passar a noite. Remarquei meu voo para o dia seguinte e voltei assustadíssima para Minas.




Analisando o caso...


Uma pousada em Florianópolis - um dos principais destinos turísticos do país - na Lagoa da Conceição - uma das áreas mais valorizadas e badaladas da ilha - bem localizada, perto de restaurantes, bistrôs, cafés, bares e até do terminal de ônibus. 


Tem tudo para dar certo. Mas, o negócio tem sempre a cara do dono e, nesse caso, a cara não é boa.  Em seu raciocínio fechado, o sujeito acha um desaforo ter de atender hóspedes. Onde já se viu? Gente folgada que só sabe exigir: quer quarto limpo e arrumado, sem mal-cheiro ou, de preferência, cheiroso, cama arrumadinha, café da manhã e todas essas frescuras que o tal cliente acha que tem direito de cobrar.


Mas, para sobreviver, ele precisa dos tais hóspedes. Então, para que venham muitos hóspedes pouco chatos, ele baixa o preço das diárias. A lógica é simples: preços baixos atraem muita gente, muita gente é igual a muito dinheiro entrando, além disso, quem paga pouco não tem direito de reclamar de nada. Resultado: muitos hóspedes, pagando pouco e reclamando pouco rendem um bom dinheiro. 


Mas, como os preços são baixos, o lucro também não é lá essas coisas, afinal, mesmo oferecendo pouco ou quase nada, há custos a se considerar. A lógica que parecia tão boa, cai por terra. Insatisfeito, o dono se acha no direito de maltratar o clientes pão-duro que só se hospedou em sua nobre pousada por causa do dinheiro. Maltratado, o cliente vai embora, não volta e ainda fala mal da pousada.


Assim, o infeliz proprietário precisa sempre atrair novos e ingênuos clientes, dispostos a pagar pouco e ter pouco ou nada em troca. Para isso, ele precisa baixar ainda mais os preços e fazer algum investimento em publicidade (nem que seja criando um site gratuito na net, mas que dá trabalho).


E a equação se fecha:


preço baixo = atendimento ruim = cliente insatisfeito = (não fidelização + propaganda negativa) = (lucro baixo + custo de publicidade) = dono insatisfeito = atendimento ainda pior = cliente mais insatisfeito.


Ruim para a pousada, que tende a chafurdar em sua decadência. Ruim para o cliente, que se sente um trapo no lixo. Ruim para os bares e restaurantes da região, que perdem as vendas que poderiam fazer se o cliente não preferisse ir embora gastar seu dinheiro em outro lugar. Ruim para a cidade, que tem sua imagem arranhada por estabelecimentos assim que, vale ressaltar, são minoria.


Eu, pelo menos, ganhei um case novo para discutir com meus alunos. Ganhei também um bom lugar para indicar http://www.wix.com/lagoafloripa/pousadagaleaoaos meus piores inimigos,  assim que souber quem são.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Feira do Empreendedor - Sebrae - 2012


Achei esse texto que escrevi sobre a Feira do Empreendedor do Sebrae, de 2010... bons momentos!!!


Espero que a deste ano esteja ainda melhor


Quem visitou a Feira Emprendedora do Sebrae em Belo Horizonte, entre os dias 31/08 a 05/09, provavelmente não se arrependeu. Palestras, oficinas, debates, mesas redondas, tudo muito interessante. Além disso, a Feira é sempre um espaço privilegiado para trocas de experiências e para fazer contatos.

Mas, esse ano, mais que fazer contatos, conhecer gente e discutir empreendedorismo e gestão, a feira me chamou a atenção, particularmente, pela efervescência de cores, luzes, sabores, cheiros, texturas e sons. Apesar do burburinho e do bombardeio de informações, comuns em eventos desse tipo, não dava vontade de sair, mesmo depois de um dia inteiro sassaricando por lá com um salto de não menos que 8cm de altura.

E sassaricar é a palavra exata para descrever minha participação no evento. Aliás, minha e da minha amiga Rosa Maria, que foi comigo e implicou com meu GPS a viagem inteira. Definitivamente Rosa e Estela não se deram bem. Mas, isso é outra história. Ficamos sassaricando porque não tínhamos um foco definido. Tá bom, tá bom. Sei que é essencial ter foco para ter sucesso, mas naquele momento eu não estava buscando o sucesso. Pronto! Confessei! Eu só queria me divertir.

Mas, voltando ao assunto, a Feira foi um intrigante entrelaçamento de elementos sensoriais, que me chamou muito a atenção. E apesar de cada estande ter suas particularidades, a Feira formou um todo coeso e bem elaborado, que aguçava os sentidos da gente.

A impressão que levei da Feira somada a outros elementos me levaram a buscar mais informações sobre como as empresas podem utilizar, de forma articulada e estratégica, os cinco sentidos para lidar com seus diversos stakeholders

E as possibilidades são muitas. Aromas, texturas, cores, luzes, músicas e até sabores podem ser usados para “criar um clima”, para seduzir clientes e até mesmo colaboradores. O impacto de um mix sensorial bem planejado e articulado pode trazer inúmeros benefícios para as empresas e seus diversos públicos.


Aproveita e diz aí:

Que sentido isso te desperta: terra molhada; chá de hortelã; biscoito quentinho; flor orvalhada; chiclete; chocolate; bife com batata frita; por de sol; ondas do mar; abraço de namorado(a); neném no colo...

Tem coisas que a gente sente com os olhos, o nariz e o ouvido. Outras a gente percebe com a pele e a língua...

Nossas sensações nem sempre são unisensocial. Somos sinestésicos.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O sono dos FDP

E dois insomes inveterados discutem sobre o sono...
- Bom mesmo é dormir o "sono dos justos".
- Dos justos? Que nada! Os justos estão sempre tão preocupados em fazer a coisa certa que provavelmente nem conseguem dormir à noite.
- Então, bom mesmo é o "sono dos anjos". Eles não têm muito com o que se preocupar. Já têm a vida ganha...
- Sei não... Anjo dorme? Aliás, anjo existe? 
- Vai saber... No final das contas, acho que bom mesmo é dormir o "sono dos FDP". Quanto mais ordinária é a criatura, menos ela se preocupa com os outros e melhor consegue dormir.
- Verdade. Um dia, eu pretendo dormir como os FDP.
- É...
........................................
E essa noite eu dormi o sono dos FDP. Sono quimicamente aditivado, é verdade. Mas dormi como não fazia há alguns dias. Andava boicotando minhas boas noites com a desculpa de que essa coisa de tomar remédio tá errada, que faz mal e tals. 


E faz mal mesmo, com certeza. Melhor seria se eu conseguisse dormir um soninho natural, de FDP safado e ordinário. Mas, até que eu consiga equilibrar minha vida emocional o suficiente para isso, não dá pra ficar brincando de zumbi a noite toda, todas as noites. E, pior, não dá pra ficar depois me arrastando feito uma lagartixa sem um pingo de energia durante o dia todo, todos os dias.


O fato é que, como qualquer mortal que se preze, se não durmo à noite, fico um trapo no dia seguinte. Aí, trapo, não consigo produzir, não consigo escrever, nem organizar minhas aulas, nem pensar direito. E o ciclo se fecha quando, não conseguindo fazer o que é preciso ser feito de dia, acordo de madrugada preocupada com o trabalho e fico remoendo as listas de tarefas e me culpando por não tê-las concluído ainda.


Não faço apologia ao uso de medicamentos. De jeito nenhum. Só tomo sob orientação médica e depois de ter tentado todos os outros recursos disponíveis: atividade física para cansar o corpo, suquinho de capim-cidreira, meditação, relaxamento, contar carneirinhos...


Ter que tomar remédio para dormir é ruim. Mas, não dormir é ainda pior. É por isso que, lá pelas tantas, depois de noites de coruja e dias de lagartixa, eu desisto de tentar as vias naturais e tomo meu boa-noite-cinderela. E durmo... lindamente... um soninho sem sustos... sem pesadelos... um sono de FDP ordinária.