terça-feira, 3 de janeiro de 2012

As águas da minha vida

Não tenho medo de chuva. Me assusto com trovão, claro, como todo mundo. Mas, não sou do tipo que entra em desespero por causa de uma chuvinha. Já essa coisa de água dentro de casa me apavora.

Durante toda minha infância e adolescência, vivi em uma casa no Porto Velho, próxima ao rio Itapecerica. Não era próxima o bastante para que, mesmo com a maior enchente de todos os tempos na cidade, a água invadisse minha casa. Mas, era perto o suficiente para eu ver, relativamente de perto, o sufoco de vizinhos e amigos.

Além disso, minha casa tinha alguns problemas com o encanamento e, quando chovia muito não havia vazão suficiente e parte da água do quintal (que incluía um galinheiro) acabava indo parar dentro da sala e dos quartos.   Não foram poucas as vezes em que acordei no meio da madrugada com o movimento do meu pai, minha mãe e minhas irmãs puxando água com rodos e vassouras, tentando proteger móveis e eletrodomésticos de um aguaceiro danado.

Essas lembranças de infância acabaram se amalgamando na minha memória e me rendendo um desconforto, que chega a ser físico, a cada vez que o rio ameaça transbordar ou que eu preciso passar por ruas alagadas (como aconteceu no último domingo, no bairro Bom Pastor). Qualquer barulho nos canos da minha casa também despertam imediatamente um desespero inconfundível.

Ontem, quando saí de manhã e vi que o rio estava cheio, me deu uma sensação ruim, como sempre acontece. Meu desconforto não me permitiu ficar em casa e seguir a rotina como se nada estivesse acontecendo. Precisei registrar (primeiro imagens e, depois, sensações).

Não é que eu não tenha nada mais interessante para fazer, como me perguntaram. Tenho, sim. Consigo pensar em, pelo menos, oito coisas mais interessantes para fazer em minhas tardes, que não envolvam fotografar um rio cheio e conversar com moradores das margens e com curiosos.

Não tenho a menor intenção de resolver o problema de ninguém e nem de denunciar o que quer que seja. É só que esse assunto me toca profundamente. É, de certa forma, parte da minha vida e da minha história que se repete praticamente todos os anos, praticamente do mesmo jeito.

Sei, por exemplo, que quando a água baixar, as pessoas que tiveram as casas invadidas pelo rio vão voltar e vão encontrar muita lama, galhos e lixo dentro de casa. Sei que as casas vão estar um cheiro parecido com chulé e esse cheiro vai demorar a sair. Sei que as paredes, depois de uns dias, vão ficar cobertas com uma espécie de mofo meio branco, meio verde com um cheiro seco que penetra no nariz e causa uma alergia cabulosa.

Era assim que acontecia na minha casa quando o quintal inundava e era assim também nas casas de amigos e vizinhos que recebiam a indesejável visita do rio.

Um comentário:

  1. Sei bem como se sente. coicindentemente passei por isso tb numa certa casa no Porto Velho. Mas
    são só lembranças... Melhor aproveitar as boas água que nos chegam todos os dias e esquecer as "más águas"...
    Beijos!

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