segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

De sonhos e realidades...

Antes, eu era uma menina de futuro, que iria longe. E eu queria mesmo ir longe: queria voar. Sonhava alto. Queria até ser aeromoça (sonhozinho clichê, né?). Sonhava que iria viajar e conhecer o mundo. Que iria conversar com gente em uma porção de idiomas diferentes. Que iria experimentar e gostar de um monte de comidas muito além do arroz com feijão e do frango com quiabo. 


Sonhava com meu apartamento, pequeno e aconchegante, onde eu iria morar sozinha e receber amigos pra tomar cerveja gelada e assistir filme comendo pipoca deitados no tapete peludo que eu ia comprar. Onde eu ia ouvir música alta e dançar e onde eu ia me sentar na beiradinha da varanda (mais conhecida como murinho de curar bode), ouvindo música romântica e curtindo uma dorzinha de cotovelo (é... eu já sabia que nem tudo seriam flores).


E eu teria meu emprego, bacana e bem remunerado. E chegaria em casa cansada e pediria uma pizza para comer enquanto assistia novela. E eu ia ter namorados (no plural mesmo). E sairia no fim de semana para uma botecada com os amigos e, depois, para dançar enquanto as pernas aguentassem.


Nesse tempo, mesmo que eu não falasse nada disso para ninguém (e eu não tinha muito com quem falar mesmo), as pessoas pareciam acreditar que eu iria fazer alguma loucura assim. E era loucura porque a norma era estudar, trabalhar, casar e ter filho(s) e não morar sozinha, trabalhar e pagar suas próprias contas, ter namorados (no plural) ao invés de marido (no singular) e receber amigos em casa (amigas, tudo bem, mas amigos nunca!). E a tal menina de futuro era olhada meio de ladinho, com o olho apertadinho de desconfiança.


Aí, o futuro chegou. Mas, não o futuro que eu esperava. Chegou foi um futuro mais normalzinho. Mais condizente com o que se deve esperar de uma boa (mas nem tanto) moça de família. O marido deveria ter vindo primeiro. Mas, o filho passou a perna e chegou antes (para desespero de muitos, quase todos, inclusive eu). Foi a fase mais ovelha negra de todos os tempos. Mas, aí, o resto do futuro se manifestou. O marido finalmente apareceu, devolvendo a normalidade ansiada por todos.


E a menina de futuro - que iria ter sua própria casa, pagar suas contas, ter amigos e namorados - virou uma respeitável senhorinha, dona de casa e mãe de família, que cuidava bem do maridinho e do filho deixava toda a família feliz e orgulhosa. E eu fingia que estava tudo bem, que eu estava feliz. Fingia tão bem que até acreditava. Na verdade, eu ficava feliz de ver todo mundo feliz com minha roupa de mulher adulta e certinha.


E o sonho de ter meu espaço, minha independência, de viajar e conhecer gentes, sabores, cheiros, paisagens, luzes e sons, de dançar pela casa afora com a música alta (nessa época eu não me importava em incomodar os vizinhos), de curtir uma deprê por causa de algum dos muitos namorados, de receber amigos pra comer pipoca e tals... ficou sufocado pelas louças pra lavar, a roupa pra passar, a casa pra limpar e os cuidados com a família, o trabalho e os estudos.


O problema é que, lá no fundo, aquela respeitável senhorinha, dona de casa e mãe de família ainda queria ser a menina de futuro. E ainda queria poder sonhar os sonhos de antes e mais um tanto de outros que não cabiam na vida certinha e esposa-mãe-filha-amiga-irmã que cuidava de todo mundo.


Aqueles sonhos todos, com o tempo, começaram a agonizar e a morrer e a apodrecer e a espalhar um mal cheiro insuportável, que só eu sentia. Não era mais possível ignorar que eles existiam e estavam ali, reclamando, reivindicando o direito de viver e de se realizar.


E eu descobri que quando os sonhos morrem dentro da gente, a gente morre um pouco também. Fiquei doente (chama depressão, a minha doença). Doente da cabeça, do coração e do corpo todo. Era eu morrendo junto com meus sonhos. Mas, eu não queria morrer. E meus sonhos também não. Então, não tive escolha: fiz respiração boca a boca e massagem cardíaca nos sonhos e em mim mesma, por tabela. Sobrevivemos!!!


Hoje, os velhos (e os reciclados) sonhos estão se rejuvenescendo, se fortalecendo e se revigorando. E eu, junto com eles. Tenho meu marido, meu filho, minha família. Agora, quero minha casa, meu trabalho, meus amigos e amigas. Quero minhas viagens. Quero conhecer gentes, lugares, paisagens, cores, gostos, cheiros, luzes... Quero assistir filme no tapete felpudo e comer pipoca (ou alguma outra coisa mais... adulta). Quero ir pra balada (mais light porque não tenho mais idade pra isso). Quero meu trabalho, do jeito que eu quero. Quero minha autonomia. Quero meus sonhos. E quero a mim mesma, menos senhorinha, menos respeitável, menos mãe do mundo.


Quero voar!!!

domingo, 29 de janeiro de 2012

Viagens pelos meus mundos

Um dia eu descobri que a estrada é o melhor lugar do mundo porque é lugar nenhum e, ao mesmo tempo, é potencialmente todos. Aprendi isso tarde. A maior parte da vida, fui orientada e convencida a ter medo da estrada. Acidentes, mortes, carros-armas e outras assombrações me apavoraram durante anos. E a casa era tão segura e tão sufocantemente confortável...


Hoje, eu ainda tenho um medinho, por exemplo, de esquecer alguma coisa na hora de fazer as malas. Então, faço listas e mais listas de tudo que tenho que levar. Ainda tenho medo da estrada, principalmente à noite e daquele frio na barriga quando o avião decola ou ensaia para pousar. 


Da última vez, fui para Floripa. Bom demaaaaaais!!!!!


De novo, as listas e sublistas para não esquecer nada... depois, taxi, rodoviária, ônibus, mais rodoviária, mais ônibus, aeroporto, avião, mais aeroporto, mais taxi e, finalmente, hotel. 


Foi aí que percebi o quanto é difícil sair de Divinópolis. Ou a gente encara as estradas que levam para o mundo lá fora (que não estão lá essas coisas, com buracos, pistas estreitas, curvas fechadas e pedágios...) ou se dispõe a uma maratona para chegar em BH e conseguir um voo qualquer.


Mas, chegando em Florianópolis, tive a sensação de estar em casa. Não porque haja semelhanças entre lá e aqui. Ao contrário, as diferenças são evidentes e gritantes. Mas, me senti bem, acolhida e confortável como não me sinto na minha city-sweet-city.


O hotel, apesar de sofisticadinho, não tinha aqueles ares de esnobe que a gente costuma ver por aí. E, apesar do ar condicionado exorbitantemente frio, é tudo bem acolhedor.


O shopping, que ficava no outro quarteirão, não era o maior e melhor do mundo, mas em comparação com o que se costuma ter por aqui, era muito bacana. Simples, mas bacana. Pude experimentar comida mexicana e chinesa, além de uma variedade interessante de italianas (calzones, pizzas, massas em geral, saladas e afins) e, claro, camarão. Também tinha a opção de comida japonesa, churrascos e comidinha caseira com cara de Minas. Tudo na praça de alimentação, que nem era maior que a do Terra.


Ainda no shopping, me encantei com as livrarias. Sim!!! Assim mesmo, no plural (o daqui não tem nenhuma, por que será?). Também tive a sorte de estar por lá nos dias em foi montada uma feirinha de artesanato e comidinhas tipicamente catarinenses. E, como eu adoro feirinhas....


Calçadão com direito a arco-íris
A melhor parte, logo ali, do outro lado da rua, era o calçadão. Larga, bem pavimentada, com divisória para mão e contramão (quase caí pra traz quando percebi isso!!!), a pista tem quase 10km de extensão, margeando o mar. Ao lado, uma ciclovia (também com mão e contramão) arrumadinha, cuidadosamente separada das pistas de carros e da área destinada aos pedestres. Tudo isso com uma vista deliciosamente bela, do mar e do continente que fica logo ali do ladinho.


Academia montada na pista de
caminhada-corrida-bike
Ao longo da pista de caminhada-corrida-pedalada, caramanchões de madeira com trepadeiras começando a crescer, com banquinhos para quem quiser se sentar, descansar e curtir a vista, com direito a por do sol. Para quem quiser continuar se exercitando ou se alongando, tem alguns lugares com barras e uns aparelhos, ao ar livre. Nos fins de tarde, instrutores orientam os exercitantes presentes sobre a melhor forma de usar os aparelhos.


Tudo simples, funcional e muito bacana.



Passeio com a bike emprestada
Para quem não tem bike e, mesmo assim, quer pedalar pela ciclovia, é só fazer um cadastrozinho e deixar um documento de identidade com as meninas que ficam ali na praça e elas emprestam uma bicicleta toda bonitinha. DE GRAÇA!!! Imagino que esses empréstimos não devem ocorrer o ano todo. Só durante o verão Mas, já é muito melhor que nada, né? Até porque, o verão costuma representar 1/4 do ano...


"Recepcionista" da Casa da Alfândega
No centro da cidade, pertinho de onde eu estava hospedada, tinha museus, lojas, um calçadão de comércio popular, a Casa da Alfândega (onde funciona uma feira permanente de artesanato local) e o Mercado Público, que é uma atração à parte. Peixes frescos, chegadinhos dos barcos pesqueiros que a gente vê margeando as praias, são vendidos a preços fantasticamente baixos (em comparação com o que se tem aqui, por peixes congeladíssimos). Coisas feitas de palha, sapatos, roupas etc... tudo pode ser encontrado ali, num prédio histórico bonitinhamente bem cuidado.


Praças e mais praças, todas verdinhas, floridinhas e cheias de árvores, se pulverizam por toda a parte central da cidade. No trânsito (pesado, diga-se de passagem), os pedestres esperam o bonequinho ficar verde para atravessar a rua e, onde não tem semáforo (e, consequentemente, nem bonequinho), são os motoristas que esperam os pedestres atravessarem - na faixa, sempre!!! - Ninguém corre desembestado no meio da rua.


Nas praias, nos bares e nas ruas ninguém é obrigado a ouvir a mais nova música super-sucesso do verão e nem outro tipo de música qualquer. Não tem axé, nem pagode, nem sertanejo, nem funck. Não tem carro escandaloso, nem caixas de som pelas ruas. Quem quiser, usa fone de ouvido. Simples, democrático e respeitoso, né?


Lixo? Nem nas praias, nem nas ruas. No calçadão, é comum ver pessoas passeando com um ou vários cachorros ao mesmo tempo e elas sempre levam sacolinhas de plástico nas mãos. No começo, não entendi porque tanta sacolinha, até que vi um senhor e, mais tarde, uma moça recolhendo os cocôs largados pelos bichos durante a caminhada.  Achei lindo!!


Bonitinho mesmo foi o motorista do taxi, na hora de ir do hotel para o aeroporto - momento difícil, de muito sofrimento e luto profundo. Ele correu para abrir a porta do carro para mim e até me ofereceu a mão para me ajudar a descer. Me senti toda princesa...


E, triste mesmo foi dar de cara, horas depois, com a rodoviárias de BH, a MG 050 e a Av. JK. Na hora de pegar o último taxi dessa maratona, o motorista sequer disse boa noite, jogou a bagagem no porta-malas e saiu correndo, caprichando nas curvas e esquinas. Me senti uma azeitona em boca de banguela, quicando dentro do carro até chegar em casa, sem que o nobre senhor abrisse a boca nem para perguntar para onde queríamos ir. Pensei, desculpando, que talvez fosse mudo, o pobre. Mas, na hora de dizer o preço da corrida - que foi quase um rally - a voz voltou. Deprimente!!!


Sei que todas as polis têm problemas e soluções. Não importa se é Floripa ou Divina. Mesmo assim, eu gostaria muito de poder voltar para a primeira.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Divinamente

É uma cidade e tanto. Até a revista disse que é um dos melhores lugares de todos. E o cara da revista sabe bem das coisas. É uma cidade rica, de belezas naturais fantásticas e de um projeto urbanístico fabuloso.


Bem planejada, tem ruas largas, bem sinalizadas e sem nenhum buraquinho sequer, por onde passa um monte de carros de uma vez só, sem engarrafamentos nem confusões. As pessoas são bem educadas e gentis o tempo todo e ninguém xinga ou reclama só porque o outro parou o carro no meio da rua, estacionou em fila dupla ou tripla ou virou na esquina sem dar seta, até porque ninguém faz isso.


As pessoas são educadas assim porque as escolas são muito, muito boas. Os professores trabalham felizes, com todos os recursos mais modernos e sofisticados para oferecer o máximo de informação aos seus alunos, principalmente nas escolas públicas e gratuitas.


E a excelência começa cedo. As crianças pequenas vão para as creches enquanto as mamães vão para o trabalho. Essas creches têm uma estrutura perfeita para para atender os pequenos e as mães ficam tranquilas e felizes sabendo que os filhos estão bem cuidados o dia todo.


A vida cultural da cidade é um show, literalmente. Teatros, museus, espetáculos de música e dança apresentados gratuitamente em belas praças e parques bem cuidados e cheios de árvores e flores. Tudo lindo!


Para quem precisa sair da cidade (só se for por necessidade mesmo, porque por vontade própria ninguém sai), tem estradas bem cuidadas que levam a qualquer outro lugar, uma mais perfeita que a outra. 


Não falta emprego para ninguém e todo mundo recebe um salário bem gordinho. É que a cidade tem um parque industrial tão maravilhosamente bem estruturado que as empresas disputam a oportunidade de se instalar ali. Assim, a cidade tem um monte de empresas grandes, bonitas e ricas que dão emprego - e pagam muito bem! - a todos os cidadãos e até mesmo para gente de outros lugares.


Os políticos da cidade são tão honestos e competentes que vira e mexe a população promove manifestações para homenageá-los e agradecê-los por seu excelente trabalho.


Nem animais abandonados, perambulando pelas ruas a cidade tem. Todos vivem em abrigos aconchegantes e são tratados com muito amor e carinho por profissionais capacitados e apaixonados.


É que se trata de uma cidade preocupada com a vida e com o meio ambiente. Na verdade, ela é totalmente ecológica. Não há lixo nas rua, até porque as pessoas são educadas e não jogam nada no chão. Usinas de reciclagem reaproveitam todo o material possível e revertem a renda para  mais campanhas de conscientização ambiental e para a construção de mais áreas de preservação.


Em toda a cidade, milhares... milhões de árvores tornam o ar sempre fresco, puro e cheiroso. E, por falar em cheiro, o rio que corta a cidade é mais um espetáculo. Suas águas claras e cristalinas irrigam canteiros de flores que perfumam toda a região. Peixes de várias espécies enchem as águas de cores e brilhos (e eles estão vivos!!!). Caminhar pela margem é um dos passeios mais bonitos de se fazer a qualquer dia e hora.


Por falar em caminhar, em toda a cidade há largas calçadas - sem buracos, lixo ou qualquer outro obstáculo - para se praticar caminhadas e corridas, além das ciclovias para quem prefere pedalar. Ao longo das pistas, locais especiais para fazer alongamentos são monitorados por profissionais especializados que dão suporte e orientam as pessoas sobre a melhor maneira de se exercitar.


O resultado de tudo isso é que a população é tão saudável que o Pronto Socorro Municipal e os Postos de Saúde quase não têm trabalho. Médicos, enfermeiros e outros profissionais usam o tempo para promover campanhas educativas e incentivar as pessoas a se alimentar bem, a praticar mais exercícios e a viver melhor e com mais saúde.


E mais: ninguém tem medo de nada na cidade. A segurança é total e plena. As pessoas podem andar pelas ruas à noite e até deixar as janelas e portas das casas abertas na hora de dormir porque uma equipe bem treinada da polícia monitora tudo e cuida para que as pessoas possam viver muito tranquilamente.


Claro que o cara da revista não sabe disso tudo. Só quem vive na cidade sabe disso. Por essas e outras (e tem várias outras!!!) que essa cidade é DIVINA. E vai completar 100 anos em junho.


É ou não é?

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

E a arte nos aponta uma resposta

"Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba. E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer" Oswaldo Montenegro


É na arte que tenho me encontrado e me descoberto nos últimos tempos. É ela que tem me mostrado que minha solidão é, de fato, povoada de outros tão sós quanto eu, tão desnorteados quanto eu, tão sedentos e famintos, tão apavorados e tão insanos em buscas às vezes infindáveis e infrutíferas de si mesmos. Tanto quanto eu.


Galetea das Esferas, de Salvador Dali
Mas, bem que poderia ser Meus Mundos & Eu
Poesias, músicas e textos variados, verbais ou não, nunca me retrataram tanto e nunca me refletiram como agora. É como um farol a me sinalizar que outros já se perderam, já se perceberam e, quem sabe, já sobreviveram a tormentos tão meus, tão únicos, tão exclusivos e, ao mesmo tempo, tão compartilhados.


Poesias, músicas, imagens, narrativas me retratam, me desnudam, me expõe a mim mesma. Me permitem me ver ao expressar o que não sou capaz. Me permitem entender o que sozinha eu não consigo e me ajudam a reconhecer essa eu tão diversa quanto estúpida e complexa, essa eu ao mesmo tempo familiar e estranha, essa nova forasteira, foragida de entranhas que eu nem sabia que existiam.


É a arte de outros talentosos que me aponta respostas "mesmo que ela não saiba".


Mas, eu sei!!! E agradeço pelas janelas que me exibem a mim mesma

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

As águas da minha vida

Não tenho medo de chuva. Me assusto com trovão, claro, como todo mundo. Mas, não sou do tipo que entra em desespero por causa de uma chuvinha. Já essa coisa de água dentro de casa me apavora.

Durante toda minha infância e adolescência, vivi em uma casa no Porto Velho, próxima ao rio Itapecerica. Não era próxima o bastante para que, mesmo com a maior enchente de todos os tempos na cidade, a água invadisse minha casa. Mas, era perto o suficiente para eu ver, relativamente de perto, o sufoco de vizinhos e amigos.

Além disso, minha casa tinha alguns problemas com o encanamento e, quando chovia muito não havia vazão suficiente e parte da água do quintal (que incluía um galinheiro) acabava indo parar dentro da sala e dos quartos.   Não foram poucas as vezes em que acordei no meio da madrugada com o movimento do meu pai, minha mãe e minhas irmãs puxando água com rodos e vassouras, tentando proteger móveis e eletrodomésticos de um aguaceiro danado.

Essas lembranças de infância acabaram se amalgamando na minha memória e me rendendo um desconforto, que chega a ser físico, a cada vez que o rio ameaça transbordar ou que eu preciso passar por ruas alagadas (como aconteceu no último domingo, no bairro Bom Pastor). Qualquer barulho nos canos da minha casa também despertam imediatamente um desespero inconfundível.

Ontem, quando saí de manhã e vi que o rio estava cheio, me deu uma sensação ruim, como sempre acontece. Meu desconforto não me permitiu ficar em casa e seguir a rotina como se nada estivesse acontecendo. Precisei registrar (primeiro imagens e, depois, sensações).

Não é que eu não tenha nada mais interessante para fazer, como me perguntaram. Tenho, sim. Consigo pensar em, pelo menos, oito coisas mais interessantes para fazer em minhas tardes, que não envolvam fotografar um rio cheio e conversar com moradores das margens e com curiosos.

Não tenho a menor intenção de resolver o problema de ninguém e nem de denunciar o que quer que seja. É só que esse assunto me toca profundamente. É, de certa forma, parte da minha vida e da minha história que se repete praticamente todos os anos, praticamente do mesmo jeito.

Sei, por exemplo, que quando a água baixar, as pessoas que tiveram as casas invadidas pelo rio vão voltar e vão encontrar muita lama, galhos e lixo dentro de casa. Sei que as casas vão estar um cheiro parecido com chulé e esse cheiro vai demorar a sair. Sei que as paredes, depois de uns dias, vão ficar cobertas com uma espécie de mofo meio branco, meio verde com um cheiro seco que penetra no nariz e causa uma alergia cabulosa.

Era assim que acontecia na minha casa quando o quintal inundava e era assim também nas casas de amigos e vizinhos que recebiam a indesejável visita do rio.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Rebordose jornalística

Depois de tanto tempo sem ir às ruas para fazer matérias, resolvi registrar alguns efeitos das chuvas em Divinópolis. Câmera na mão e um pouco de cara de pau (não dá pra brincar de jornalista sem ser cara de pau) fui fotografar o Rio Itapecerica.


E eu não era a única... muitos curiosos - alguns mais assustados e outros mais eufóricos - empunhavam suas câmeras também. Conversando com algumas pessoas, o que mais ouvi foi o anúncio de que mais chuva viria por aí e que o rio iria encher ainda mais. Tudo isso com um mal disfarçado sorriso de quem, de certa forma, se divertia com a iminência de uma enchente.


Os mais explícitos chegavam a dizer que o rio estava muito bonito. De certa forma, estava mesmo. A força da natureza sempre tem um quê de poesia. Claro que as pessoas que corriam o risco de ver suas casas invadidas pelas águas tinham opinião diferente. Nesses casos, os comentários eram de que a coisa estava feia...


Seguem algumas fotos:

 Ponte que liga os bairros Porto Velho e Esplanada

Proximidades da ponte entre Porto Velho e Esplanada

Avenida Beira Rio, no Porto Velho

Rua Rio Branco, no Porto Velho

Ponte no bairro Niterói

Pontilhão de pedestres, próximo à Ponte do Niterói

Ponte do Niterói
 Vista da ponte que liga Porto Velho e Esplanada


Ponte sobre o córrego em frente ao Estádio Waldemar Teixeira de Faria, no Porto Velho

Inferno líquido

Chove...
E a água lava os resquícios da comemoração do Ano Novo e traz os mesmos temores de todos os anos velhos... lava-se a maquiagem da cidade e revelam-se as feridas.


Os bueiros tentam beber toda a chuva, mas estão muito ocupados tentando digerir o lixo que foi parar em suas gargantas. As ruas, então, transbordam... de água e de carros. 


Todos com pressa. Só se quer sair logo da rua molhada e chegar a um lugar seco, se é que ainda existem lugares secos por aí. Na pressa, vale tudo: acelerar em sinal amarelo (e, por que não no vermelho também?), parar em filas duplas e triplas, criar vagas de estacionamento onde não existem...


O asfalto se rompe em escaras. Verdadeiras crateras que obrigam os motoristas a desvios nem sempre seguros. A vida nesses dias pode ser uma aventura. Um rally em que é preciso ser capaz de desviar de buracos e obstáculos fixos e móveis, quase suicidas.


Pedestres munidos de sombrinhas e guarda chuvas se acotovelam pelas ruas e embaixo das marquises. E, também com pressa, atravessam as ruas correndo, no meio dos carros. Ignoram o perigo dessas manobras.


Em alguns pontos o rio ruge, em outros, simplesmente, se expande. Ameaça se derramar pela cidade, molhando ainda mais o que já está encharcado e despejando de volta em ruas e casas o lixo que guarda em suas entranhas. Talvez seja sua forma de protesto. Talvez só queira um pouco de atenção.


E a cidade começa o Ano Novo de olho em problemas já velhos.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Promessas....

Prometo não prometer nada em 2012...
Não tenho certeza se vou intensificar minhas atividades físicas, se vou continuar sem beber (não bebo há mais de um ano), se vou parar de comer carne ou chocolate (nunca consigo viver muito tempo longe de um Ouro Branco).


Não sei se vou voltar a fazer aulas de dança do ventre (bem que eu gostaria) ou se vou aprender a jogar tênis. Também não sei se vou continuar estudando italiano e espanhol e se vou aprimorar  meu inglês.


Não garanto que vou escrever e publicar artigos científicos, se vou voltar a bancar a jornalista ou se vou escrever literatura. Não prometo nem mesmo continuar a escrever nesse blog (já tentei tantas vezes e nunca consegui por muito tempo).


Não estou certa se vou conseguir ser mais feliz, mas serena ou mais leve. Se vou investir mais na minha qualidade de vida ou se vou cuidar mais das pessoas que amo.


Não sei se vou ter mais tempo para meus amigos ou se vou conhecer mais gente interessante e fazer novas amizades.


Não sei se vou conseguir manter minha intensa viagem eu adentro ou se vou apostar mais em viagens mundo afora.


Mas, bem que eu quero tudo isso!!!!

2011 sob novas lentes

2011 foi um ano... interessante. Difícil, mas bem interessante. Foi como seu eu tivesse ganho, sem saber, um par de óculos, tipo fundo-de-garrafa, uma luneta e um microscópio. Fui, então, obrigada a ver as coisas de um jeito diferente. Isso não necessariamente significa ver melhor e ser mais feliz por isso. Na verdade, ver melhor pode causar desconforto e dor.


Percebi, por exemplo, que algumas pessoas não são como eu pensava. E sofri por isso. Não significa que elas fossem boas ou más. Era só uma questão de perspectiva. Minha perspectiva é que esteve equivocada por tempo demais. Alguns chamariam a sensação que tive de decepção. Eu mesma chamei assim por algum tempo. Mas, depois me dei conta de que não era bem assim. É que tudo depende mais dos olhos com que se olha do que do objeto olhado. E meus olhos já não eram os mesmos.


Relações, então, precisaram ser revistas. Atitudes precisaram mudar e, por consequência, as reações das pessoas comigo também mudaram. Não necessariamente mudaram para pior, mas mudanças geralmente trazem incertezas, instabilidade e um certo medinho.


E é difícil manter a autoestima em alta usando um nada belo par de óculos fundo-de-garrafa. Me senti feia, desengonçada, desajustada. O fato de perceber as coisas de um jeito diferente fez com que as pessoas também me vissem de outra forma. E eu acho que nem todas gostaram do que viram.


As coisas ficaram menos nebulosas, embora não menos assustadoras. E eu também consegui ver mais detalhes. Pequenos, minúsculos e até então despercebidos detalhes começaram a se mostrar de forma mais clara diante desses olhos agora capazes de esquadrinhar muidezas. E isso também pode ser bem desconfortável e pode provocar reações adversas.


Mas, o mais interessante disso tudo foi o fato de eu começar a ver também mais longe. Meu mundo, aliás, meus mundos cresceram. E eu começo a vislumbrar um sem número de possibilidades, embora ainda não seja capaz de alcançá-las.


Essas lentes todas, afinal, apesar de desconfortáveis, são... interessantes, assim como foi 2011 para mim.


Que venha 2012 e que venham as lentes de contato.