segunda-feira, 26 de março de 2012

Pefeição

A perfeição não me comporta. Talvez por eu não saber me comportar.
Ela, redonda, contínua, lisa, harmoniosa... 
Eu, angulosa, desconexa, crespa, descompassada... cheia de pontas, arestas, cantos, lados...
Para caber nela, tenho de me podar, me cortar, me mutilar... tenho de sangrar.
Não. Não nasci para ser perfeita. Sou torta demais, desproporcional demais, assimétrica demais.
Nasci foi para o equívoco, o engano, o incerto, o insano.
Mosaico de mim, nasci para a textura, os muitos lados, a dissonância, a discrepância, o disparate.
Eu não caibo na perfeição e a perfeição a mim não cabe. 
Não consigo ser perfeita. Nem quero!

quinta-feira, 15 de março de 2012

Desterro

Uma estrangeira onde quer que esteja. É assim que me sinto. Desterrada. Livre, talvez, de um cordão umbilical tardiamente rompido, que me ligava a algo há muito morto e pútrido. Talvez...


Livre dessa amarra, a sensação é estranha. Um desapego, uma liberdade dolorida e solitária. Aquele algo  a que me estive atada por tanto tempo, embora me sufocasse, me servia de norte e de porto. era um alento. Sem isso, me perco, me expatrio. Boio num sem fim de possibilidades e não me apego a nenhuma. São horizontes demais e chão de menos.


Estrangeira, turista, forasteira, invasora não importa onde esteja. Todos os lugares me parecem paradoxalmente familiares estranhos. Familiares, talvez, por causa da minha ânsia de ver mapas, rotas e fotos antes mesmo de chegar. Estranhos, talvez, por minha própria estranheza, que se estende até às mais costumeiras paisagens.


Acho que é a minha paisagem interna que está estranha. O estranho, então, sou eu. O medo é de mim mesma. Virei uma estrangeira em mim.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Minha mórbida e insólita experiência na Pousada Galeão

A Pousada Galeão - na Lagoa da Conceição, em Florianópolis - foi a pior, a mais nefasta e esmagadora experiência de consumo-atendimento que já vivenciei. Incompetência, preguiça e má-fé se aliaram para criar o macabro cenário que me recepcionou à Lagoa no último sábado e que me espantou de lá já na manhã de domingo.


Chegando à Pousada, na manhã de sábado, conforme previamente combinado por telefone com o proprietário, esperei quase meia hora antes de ser recebida por outro hóspede. É que o dono estava dormindo  e, pelo visto, não queria ser acordado antes do por do sol.


Fui, então, desovada em um quarto que ainda não tinha sido limpo e arrumado desde a saída do último hóspede. Pelo cheiro e pela quantidade de insetos, parecia que isso tinha sido há algumas semanas. Fui brindada com uma vassoura e um balde para que, se quisesse, limpasse eu mesma a imundície. 


Obviamente indignada e frustrada, deixei minhas malas e saí para dar uma volta e render minhas homenagens ao mar (nesse caso, à Lagoa, o que dá no mesmo, já que é tudo água salgada) até que algum responsável aparecesse para resolver a situação. A paisagem fantasticamente azul me acalmou. Não dá pra ficar irritado num cenário daquele.


Ingênua, ponderei comigo mesma que tudo não passava de um mal entendido e que o dono deveria aparecer logo para tomar as providências cabíveis e me transferir para um quarto decente. Voltei à Roubada, ops! Pousada. O digníssimo continuava dorminhocando sem querer ser incomodado. Incomodada fiquei eu quando o tal hóspede que me atendeu cobrou, a mando do dorminhoco, o valor da diária. Respondi que pagaria ao próprio dono, quando ele se dignasse a aparecer.


Ao cair da noite, ele se dignou. Apareceu ameaçando chamar a polícia caso eu não pagasse o valor da diária e desocupasse imediatamente o quarto, já que, como eu não paguei antecipadamente, ele tinha alugado para outra pessoa.


Surpresa e assustada com a insólita situação e apavorada com o comportamento do sujeito, paguei a tal diária (a essa altura, já não sabia do que ele seria capaz se não pagasse e eu estava sozinha com ele na tal pousada). Saí e procurei outro lugar para passar a noite. Remarquei meu voo para o dia seguinte e voltei assustadíssima para Minas.




Analisando o caso...


Uma pousada em Florianópolis - um dos principais destinos turísticos do país - na Lagoa da Conceição - uma das áreas mais valorizadas e badaladas da ilha - bem localizada, perto de restaurantes, bistrôs, cafés, bares e até do terminal de ônibus. 


Tem tudo para dar certo. Mas, o negócio tem sempre a cara do dono e, nesse caso, a cara não é boa.  Em seu raciocínio fechado, o sujeito acha um desaforo ter de atender hóspedes. Onde já se viu? Gente folgada que só sabe exigir: quer quarto limpo e arrumado, sem mal-cheiro ou, de preferência, cheiroso, cama arrumadinha, café da manhã e todas essas frescuras que o tal cliente acha que tem direito de cobrar.


Mas, para sobreviver, ele precisa dos tais hóspedes. Então, para que venham muitos hóspedes pouco chatos, ele baixa o preço das diárias. A lógica é simples: preços baixos atraem muita gente, muita gente é igual a muito dinheiro entrando, além disso, quem paga pouco não tem direito de reclamar de nada. Resultado: muitos hóspedes, pagando pouco e reclamando pouco rendem um bom dinheiro. 


Mas, como os preços são baixos, o lucro também não é lá essas coisas, afinal, mesmo oferecendo pouco ou quase nada, há custos a se considerar. A lógica que parecia tão boa, cai por terra. Insatisfeito, o dono se acha no direito de maltratar o clientes pão-duro que só se hospedou em sua nobre pousada por causa do dinheiro. Maltratado, o cliente vai embora, não volta e ainda fala mal da pousada.


Assim, o infeliz proprietário precisa sempre atrair novos e ingênuos clientes, dispostos a pagar pouco e ter pouco ou nada em troca. Para isso, ele precisa baixar ainda mais os preços e fazer algum investimento em publicidade (nem que seja criando um site gratuito na net, mas que dá trabalho).


E a equação se fecha:


preço baixo = atendimento ruim = cliente insatisfeito = (não fidelização + propaganda negativa) = (lucro baixo + custo de publicidade) = dono insatisfeito = atendimento ainda pior = cliente mais insatisfeito.


Ruim para a pousada, que tende a chafurdar em sua decadência. Ruim para o cliente, que se sente um trapo no lixo. Ruim para os bares e restaurantes da região, que perdem as vendas que poderiam fazer se o cliente não preferisse ir embora gastar seu dinheiro em outro lugar. Ruim para a cidade, que tem sua imagem arranhada por estabelecimentos assim que, vale ressaltar, são minoria.


Eu, pelo menos, ganhei um case novo para discutir com meus alunos. Ganhei também um bom lugar para indicar http://www.wix.com/lagoafloripa/pousadagaleaoaos meus piores inimigos,  assim que souber quem são.