domingo, 27 de janeiro de 2013

A maldição da folha em branco

Muitos já tombaram diante da minha força. Muitos já choraram, implorando por clemência. Muitos outros desistiram. Alguns, poucos, alcançaram tímidas e passageiras vitórias. Todos, invariavelmente, sofreram diante de mim.

Não. Eu nunca quis ser amada. Gosto dos sentimentos brutos, dos ódios, do desespero. Gosto dos olhos vermelhos, esbugalhados, apavorados. Gosto do esgar de sofrimento, dos cabelos arrancados à força, dos gestos de desalento. Gosto de provocar ânsia. 

Você pode fugir. Pode tentar se esconder. Mas, não pode me vencer. Pode tentar se distrair com um videozinho no Youtube, uma olhadinha no Facebook, uma visitinha ao e-mail. Pode até tomar um café, fazer um lanche, dar uma volta, bater um papo, ligar a TV. Mas, vai ter de voltar e eu vou estar te esperando. Branca. Alva. Virgem. Nenhuma ideia sua vai conseguir se infiltrar em mim.


Em alguns momentos, você até poderá vencer algumas batalhas. Umas poucas linhas ou, quem sabe, algumas páginas. Com um pouco de sorte, um texto inteiro. Comemore. Celebre. Vanglorie-se. E saiba que isso não vai durar muito. Eu me fortaleço sempre e, cedo ou tarde, você vai cair de novo em minhas garras.


Eu sou seu pior pesadelo. Seu maior desespero. Vou tirar seu sono. Vou sugar sua energia. Vou te vampirizar. E, quanto mais perto do fim do prazo, maior vai ser seu sofrimento e maior a minha diversão. Você não vai conseguir pensar em mais nada a não ser em mim e nas muitas ideias e palavras que você gostaria que eu aceitasse. Mas, não. Não aceito nada que venha de você. Sou e continuarei sendo branca e limpa.


E quando cansado e sem forças você rogar aos céus que te iluminem e inspirem, vou rir. Quando apelar para a inspiração de outros que, porventura, tenham ousado me vencer, vou me deliciar. Quando, finalmente, desistir de impor a mim suas ideias frágeis e decidir copiar ideias igualmente frágeis de outros, vou me deleitar. 


É nesse momento que eu me consolido como a vencedora. A eterna folha em branco. Virgem de ideias suas. Casta de suas besteiras supostamente iluminadas. Pura de suas bestialidades. Me preservo de suas cretinices e venço. Sempre venço!

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