quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sabotagem? Quem? Eu?

Dizem que tudo começou com uns operários franceses que colocavam seus tamancos de madeira entre as engrenagens das máquinas para que elas parassem de funcionar e eles pudessem descansar um pouco no horário de trabalho. Como os tais tamancos eram chamados de sabot, a prática de vandalizar as máquinas das fábricas acabou virando sabotagem.


A prática de tentar impedir o pleno funcionamento do que quer que seja é antiga e foi (e ainda é) muito utilizada em guerras, por exemplo, além das fábricas francesas e de outras nacionalidades também.


Destruir as máquinas do patrão ou prejudicar funcionamento do exército inimigo é um negócio interessante quando se quer ganhar tempo de folga num trabalho fatigante e desumano ou quando se pretende ganhar uma batalha ou até uma guerra. Bem diferente, no entanto, é destruir a própria vida por razões que, literalmente, a própria razão desconhece. E que levante a mão quem não faz isso. Eu faço! Vergonhosamente, faço!! Ridiculamente, faço!!! Descontroladamente, faço!!!!


Fico com sono quando preciso terminar algum trabalho importante. Perco a hora da aula de Ioga. Chego atrasada no Pilates. Fico com preguiça de fazer caminhada. Fico com fome de chocolate e (horror!) me empanturro de bombons. Decido fazer faxina nos dias mais impróprios, só para não ter tempo de escrever meus textos. Repito, indiscriminadamente, atitudes e comportamentos indesejáveis pelo simples (des) prazer de repetir o que me incomoda tanto. Alimento culpas, raivas, remorsos... Me perco por um tempo longo demais navegando nas baboseiras diárias do Facebook, do Google+, nas páginas de horóscopo, em blogs inúteis (inclusive o meu), procurando músicas no 4shared e vídeos no Youtube.


Boicoto descaradamente meus projetos. Me perco em ciclos viciosos de relacionamentos frustrados e frustrantes.Tento culpar os outros e, roída de remorsos, tomo o caminho mais curto e passo a culpar a mim mesma. Fico triste por sentir culpa e com raiva por ficar triste e aí preciso me recompensar. A recompensa geralmente vem na forma de algo ainda mais autodestrutivo: chocolate, cama, TV e mais e mais vadiagem virtual, disfarçada de descanso.


Enquanto isso, insisto em criar listas e mais listas do que tenho de fazer, impondo-me "uma tonelada e meia de coisas para fazer". Diante da impossibilidade de fazer tudo (e ainda vadiar pela net, limpar a casa e fazer todas as atividades que me proponho diariamente), me culpo, fico triste e me recompenso das mais cruéis maneiras.


Sinto saudade do tempo em que não percebia isso. Do tempo em que poderia escrever esse texto sem receio dos castigos e, mais tarde, das recompensas, que me imporia. Do tempo em que as coisas eram menos claras, mais embotadas, menos conscientes e, consequentemente, menos dolorosas. Hoje, além das dores da culpa, da raiva, da tristeza, dos castigos e recompensas tortas, ainda tenho a consciência do processo.


Tô criando um sabotômetro... para registrar o que eu tenho feito comigo mesma.

Um comentário:

  1. Sabotômetro

    Tiro no pé: "esqueci" de passar protetor solar de manhã e "esqueci" de fechar a cortina do escritório. Resultado: trabalhei com a cara no sol e minhas manchinhas voltaram alegres e sorridentes

    Autoafago: consegui produzir materiais para meus alunos e ainda pretendo fazer caminhada e meditar um pouco mais tarde

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