Quando ouve isso, ela quer chorar... quer gritar... quer morrer... quer sumir... quer ir e quer não voltar... quer não ser... nunca mais...

É mais como uma maldição que diz que ela não pode ser. Ela, que nunca deveria ter sido. E ela se condena a ser sempre um quase. É a maldição de um futuro que não chega. Ela não pode deixar chegar, por mais que o deseje. E ela vive atrasando os relógios, criando obstáculos, jogando fora o que não deve e guardando o que não precisa... vive se ferindo, se cortando, se mutilando...
E assim ela segue mendigando a vida. Mendigando afetos que ela na verdade já tem. Mendigando oportunidades que ela na verdade rejeita. Mendigando poderes de que ela na verdade não precisa. Mendigando migalhas que ela na verdade não quer. Mendigando prazeres que na verdade são dores.
E ela sofre... sofre uma vida cheia de... reticências... de pausas... de não-acabados... de não vividos... Sofre uma vida cinzenta e meio amarga. Colorida apenas com alguns prazeres secundários que ela consegue quando cumpre a tal profecia. Temperada apenas com alguns momentos de esquecimento, em que ela se permite pequenices que serão punidas ou duramente recompensadas mais tarde.
E ela sofre com o espanto dos outros... que se assustam com tantas habilidades encarceradas num não ser... não poder... não conseguir... que se assustam com tanta exclamação entalada em tantas reticências e em tantas interrogações.
O que ela quer de verdade? Ora é sumir... ora é se agigantar... Vontade, às vezes, de desfazer tudo que já foi feito e começar de novo. Escrever uma história nova, sem maldições, sem profecias, sem promessas e sem expectativas, boas ou más. Vontade, outras vezes, de acabar de vez com tudo. Jogar fora o maldito rascunho e não escrever mais história nenhuma.
E ela sofre de um lado o peso da profecia e, de outro, o das promessas. De um lado o encantamento o outro e, de outro, sua frustração. De um lado a vontade de ser e, de outro, a de nunca mais.
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